quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

História sem fim

Viajou no tempo, retornou ao futuro. Se apaixonou por um casal apaixonado, ficou triste quando eles se separaram, vibrou quando eles se acertaram. Se indignou com a maldade da sociedade, lutou pela liberdade. Aprendeu feitiços, atravessou universos, penetrou no mundo dos sonhos, teve pesadelos, se machucou e achou a cura. Perdeu batalhas, ganhou a guerra. Deu gargalhadas, derramou lágrimas, se assustou e relaxou. Salvou o reino, beijou a princesa, fez amizades e inimizades. Sofreu pela morte inesperada, pela cilada manipulada, pela paixão acabada. Aprendeu coisas sobre os mundos e os universos. Se espiritualizou e viu tudo de uma forma diferente. Foi suspeito, investigou e de desvendou o mistério. Se voluntariou, matou, protestou. Aprendeu sobre política, arte, religião, história e soube que de nada sabe. Escolheu o caminho errado e sofreu as consequências. Desceu ao inferno, voou para o céu e manteve os pés na terra. Ouviu conselhos, foi enganado, se desiludiu e manteve o equilíbrio. Iluminou aqueles que viviam nas trevas, andou pelo vale das sombras sem se desviar do caminho. Amou, odiou, perdoou, se apaixonou. Degustou, cantou, dançou, se aventurou.
Fechou o livro, dormiu e a aventura no dia seguinte continuou.

kAwan oLiveira

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O mundo ta chato

-O mundo ta chato
-O mundo ta chato há muito tempo. As pessoas se chateiam quando são obrigadas a sair de toda uma chatice acomodada.

kAwan oLiveira

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quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Em Relação ao Chaves

   Assisto Chaves desde criança e há algo no seriado que me intriga. Não apenas pelo fato de já o ter visto milhões de vezes e sempre assistir como se fosse a primeira vez, mas por uma série de mensagens subentendidas contidas em seu enredo. Estou sempre assistindo e re-assistindo para ter uma visão mais ampla deste universo criado por Chespirito.

   O que sei é que há uma baita crítica social implementada nesse programa em que todos vivem suas vidas simples, num cortiço onde cada personagem representa pessoas existentes nas periferias da vida real.

   Um dos personagens mais queridos é o Seu Madruga, um homem tido como preguiçoso ou que não gosta de trabalhar. Mas o Seu Madruga é um homem desvalorizado, cheio de talentos, é o contrário do que dizem sobre ele. Ele já trabalhou de carpinteiro, fotógrafo, vendedor, sapateiro, cabeleireiro, etc. É do tipo que vive engolindo sapos, vive sendo humilhado e mesmo com nada dando certo, ele parte para a próxima e recomeça. Ele não se adequa as normas sociais estipuladas e por isso ele julgado como marginal.

   A Chiquinha é aquela criança que desde pequena já tem de aprender a se virar num mundo difícil. É obrigada a ser esperta, pois já tem em mente que se der bobeira, o mundo fará com ela o que a Dona Florinda faz com seu pai.

   Dona Clotilde é uma mulher idosa, rabugenta e fofoqueira. Mora sozinha e sonha com um grande amor (Seu Madruga). É o tipo de pessoa que chega a terceira idade sem grandes realizações e se sente vazia. E esse vazio se transforma em frustração e revolta. E por ser rabugenta e viver de cara amarrada, é chamada de bruxa.

   A Dona Florinda é o tipo de pessoa pobre e com dificuldades que se sente superior aos outros. Despreza os vizinhos e menospreza aqueles que ela julga ser inferior a ela, chamando de gentalha. Acha que todos perseguem seu filho mimado Quico. Sua personalidade muito se assemelha ao Professor Girafales.

   Professor Girafales é um intelectual, arrogante, soberbo e solitário. Se sente superior aos outros e é carente de amor. Sua personalidade muito se assemelha a Dona Florinda.

   Quico, Popis e Nhonho são crianças mimadas, melindrosas e dependentes. São o reflexo dos adultos que são responsáveis por eles e são interpretados pelos mesmos atores que Frederico (Pai do Quico), Dona Florinda (Tia da Popis) e Seu Barriga (Pai do Nhonho).

   Seu Barriga come bem, vive no luxo, dinheiro não é problema, mas sente que algo lhe falta. E aquilo que lhe falta é preenchido um pouco quando ele está na vila, mesmo sendo vítima das trapalhadas do Chaves. Por qual outro motivo ele deixaria o Seu Madruga na vila, mesmo lhe devendo tantos meses de aluguel? Ele vai para a vila comemorar o natal e o dia de São Valentim. Quando os moradores vão para o cinema e para Acapulco, ele vai atrás e leva o Chaves com ele. Seu Barriga chega ao ponto de abrigar todos em sua casa enquanto a vila é reformada.

   Jaiminho não sabe andar de bicicleta, porém ninguém pode saber disso, senão ele é demitido. Será que ele é preguiçoso por sempre evitar a fadiga ou muito velho e cansado, sem poder largar o emprego, pois precisa dele para sobreviver?

   Chaves é o mais pobre de todos na vila, sua simplicidade e ingenuidade geram reflexões. Uma de suas maiores qualidades é a empatia com o próximo. Há um episódio de natal onde Chaves ganha um caminhãozinho de presente e decide dar o presente a uma criança recém-nascida e ao ser questionado sobre isso ele responde: “Não sabe que ele é um menino pobre?”. Chaves é um garoto alegre mesmo estando numa situação social triste, é criativo, agitado, curioso, as vezes irritado, as vezes excessivamente contente. Uma criança comum. O Chaves é uma referência a Diógenes de Sínope, um filósofo que se abrigava em um barril e vivia em extrema pobreza, pregava a simplicidade e desprezava as convenções sociais.

   Na série, os adultos tem os seus defeitos e qualidades, têm cada um o seu jeito de levar a vida.

   As crianças, com seus defeitos e qualidades, têm cada uma a forma de ver o mundo muito característica das crianças.

   E há quem diga que Chaves é uma série muito simples, mas há uma construção complexa por trás desse programa humorístico cujo o objetivo vai além de apenas entreter.

kAwan oLiveira



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Um Tempo

Dia nublado
Cidade alertada
Com a chuva que veio
E que ainda está por vir
Nuvens carregadas
Automóveis apressados passando
Pedestres desprotegidos desesperados
Pois mais uma tempestade se anuncia

E este ambiente me resgata a lembrança de um tempo
De um dia
A tarde
E que temporal caia naquele dia!
Na casa antiga
Minha mãe corria para retirar as roupas do varal
Depois me fazia chocolate quente
Eu estava doente
E então observava a chuva cair acompanhada do vento
Mas isso já faz tempo
Quando o tempo já me fazia lembrar de um tempo

kAwan oLiveira

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terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Gritos

Deitado em minha cama, lutando para dormir ouço o mundo externo gritar.

UÉÉÉON-UÉÉÉON: É a ambulância besta! O hospital próximo a minha casa hospedará mais um ferido.

UÓÓÓÓN: O velório do hospital recebe um que não volta mais.

UIUÍ-UIUÍ: O valente guarda noturno apita.

SEU FILHO DA PUTA!!!!: Grita uma mulher que não conheço para alguém que não conheço.

PASSA A BOLA PRA MIM SEU ANIMAL!!!!: Grita alguém jogando bola na quadra da praça em frente à minha casa.

TUTÁ- TATÚ: “A máquina de lavar está ligada?”. Não. É alguém ouvindo funk no último volume.

QUE ÓDIOOO: Ouço minha irmã gritando na casa dos fundos. Digo a mim mesmo que provavelmente ela está em seu quarto dormindo, assistindo TV ou mexendo no celular.

Como se acalma os gritos da mente quando a cidade grita o tempo todo?

kAwan oLiveira


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Temperatura


segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Um Homem Difícil

Era um homem inquieto
Por onde ele andava
Trazia uma avalanche dentro de si
Quando ele falava
Desacalmava os ouvidos alheios

Por mais que calasse
Ele sempre gritava
Por mais que merecesse o céu
Vivia envolto por uma esfera infernal
Por mais que amasse
Era dominado por raios de cólera
Por mais que vivesse
Sua vida lhe escorregava das mãos

Mesmo sendo simples
Era atormentado pela complexidade das coisas práticas
Mesmo sabendo que o homem não chora
As lágrimas despencam espremidas pela ausência
Mesmo desfrutando de tanta riqueza
Sente o gosto ardido da miséria
Mesmo com todo peso do tempo sobre si
Sente que não tem mais tempo

kAwan oLiveira

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Colmeias

Eu me preparava para sair quando o telefone fixo toca. Eu atendo, uma moça se identifica falando que é da Folha de São Paulo, pergunta o meu nome e se eu sou maior de 18 anos.
Respondo, e com certo nervosismo ela começa a falar de um pacote de incentivo a leitura. Gaguejando, fala de todos os benefícios, o quão maravilhoso é o produto que esta sendo oferecido.
Respondo que não estou interessado e agradeço.
Ela insiste e a voz indica cada vez mais aflição, o gerundismo e a repetição de palavras aumentam.
Eu recuso mais algumas vezes com educação e ela fala:
- Ok senhor, a Folha de São Paulo agradece sua atenção.
Ela não desliga o aparelho do qual telefona e por alguns segundos ouço os ruídos do local onde ela trabalha.
Outras pessoas ligando e falando as mesmas coisas, o barulho nervoso dos teclados. A moça que me ligou falando, provavelmente com alguém com mais tempo na empresa onde ela trabalha e que estaria a ajudando, que esqueceu de como proceder em tal situação. Enfim desligo.
Lembro quando trabalhei de telemarketing, a alegria de ter entrado em uma empresa multinacional, que vai se tornado em angústia e raiva com o passar dos meses, as centenas de ligações diárias no desespero de bater uma meta injusta e na esperança de ganhar um trocado além do salário mínimo que me era pago. A ansiedade de dar a hora estipulada pela empresa, da minha pausa de dez minutos, depois de vinte minutos e depois de mais dez minutos. Recusar ou mentir para o supervisor, quando ele faz a proposta maravilhosa de trabalhar mais duas horas ou trabalhar no domingo.
E depois de seis horas e vinte minutos, com a cabeça doendo, os ouvidos chiando e com a certeza que não vou conseguir dormir durante a noite. Deslogar o sistema já desanimado com o dia seguinte.

kAwan oLiveira


Assim Seja

Que eu esteja numa boa
Mesmo se eu estiver desorientado
Sem saber para onde ir
Embaixo da garoa

Que eu esteja sereno
Que não me deixe dominar
Pelas influências
Que eu saiba bloquear todo veneno

Que esteja suave
Caso eu perca a sanidade
Pois talvez nesse dia
Terei encontrado o sentido da vida

Que eu esteja firme
No dia triste que estarei sem os pilares
Que sempre me apoiaram
E me fizeram chegar lá
Pois esse dia chegará

Que eu seja resiliente
A cada obstáculo
Espalhado pela frente

Que eu esteja pleno
Mesmo sabendo que um dia a mais
É um dia a menos

Que eu fique tranquilo
A cada paranoia que chegará
Pois ela passará

Que eu permaneça deitado
Quando eu acordar
E meu ânimo não me acompanhar
Que eu não me sinta culpado

Que eu não me divide
Quando a grande rachadura
Fragmentar todos os indivíduos

Que eu permaneça calmo
Quando o mundo todo
Estivem em fúria

Que alguém me incentive
Caso eu perca toda esperança em mim
E que eu recupere essa esperança enfim

Que eu viva o dia seguinte
Permitindo a mim mesmo
E que eu não me martirize
Se eu me congelar pelo medo

Que eu esteja convicto
Quando o mundo atentar
Contra aquilo que acredito

Que eu esteja confiante
Sobrevivente a cada bomba
Caminhando pelo vale das sombras

Que eu saiba lidar
Quando chegar a roda viva
E levar o destino pra lá

Que eu saiba aguardar
Quando eu sentir minha vida
Se esvaziar

Que eu seja resistente
Quando a grande tristeza
Chegar de repente

Que eu saiba me equilibrar
Quando a grande agonia
Vier me visitar

kAwan oLiveira
Voltando a atualizar o blog!!!!!!!!!!!!!