segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Colmeias

Eu me preparava para sair quando o telefone fixo toca. Eu atendo, uma moça se identifica falando que é da Folha de São Paulo, pergunta o meu nome e se eu sou maior de 18 anos.
Respondo, e com certo nervosismo ela começa a falar de um pacote de incentivo a leitura. Gaguejando, fala de todos os benefícios, o quão maravilhoso é o produto que esta sendo oferecido.
Respondo que não estou interessado e agradeço.
Ela insiste e a voz indica cada vez mais aflição, o gerundismo e a repetição de palavras aumentam.
Eu recuso mais algumas vezes com educação e ela fala:
- Ok senhor, a Folha de São Paulo agradece sua atenção.
Ela não desliga o aparelho do qual telefona e por alguns segundos ouço os ruídos do local onde ela trabalha.
Outras pessoas ligando e falando as mesmas coisas, o barulho nervoso dos teclados. A moça que me ligou falando, provavelmente com alguém com mais tempo na empresa onde ela trabalha e que estaria a ajudando, que esqueceu de como proceder em tal situação. Enfim desligo.
Lembro quando trabalhei de telemarketing, a alegria de ter entrado em uma empresa multinacional, que vai se tornado em angústia e raiva com o passar dos meses, as centenas de ligações diárias no desespero de bater uma meta injusta e na esperança de ganhar um trocado além do salário mínimo que me era pago. A ansiedade de dar a hora estipulada pela empresa, da minha pausa de dez minutos, depois de vinte minutos e depois de mais dez minutos. Recusar ou mentir para o supervisor, quando ele faz a proposta maravilhosa de trabalhar mais duas horas ou trabalhar no domingo.
E depois de seis horas e vinte minutos, com a cabeça doendo, os ouvidos chiando e com a certeza que não vou conseguir dormir durante a noite. Deslogar o sistema já desanimado com o dia seguinte.

kAwan oLiveira


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