Levo poucos minutos para chegar ao ponto e o microônibus logo passa.
Dentro da lotação, problemas que sempre me rodeiam. Sentado no banco apertado, aquela impressão insuportável de que alguém se incomoda com minha presença. Cada pessoa que senta ao meu lado me vem aquelas perguntas que alfinetam minha cabeça. “cheiro mal”? “Ocupo muito espaço do banco”? Respondo-me “foda-se” a viagem inteira. Mas não é assim tão simples.
Entro no shopping, depois de levar aquele choque térmico causado pelo ar-condicionado, eu caminho até o cinema, passando direto pelas lojas e pessoas que olham sem intenção, nem condição de comprar nada.
Como é dia útil, não tem muita fila e consigo comprar o ingresso rápido e faltando uma hora e meia pra começar a sessão. Aproveito pra comer um pouco. Peço batatas e refrigerante, na praça de alimentação, e escolho lugar que julgo ser o mais discreto para me sentar. Logo um casal senta-se à mesa ao lado e riem de alguma coisa, isso me irrita, olho rapidamente pra ver se eu sou ou não o motivo daquelas malditas risadas.
Eu como devagar, faço um pouco de hora, já que cheguei cedo demais, eu sempre chego cedo demais, para variar. Evito olhar para qualquer direção para que não pensem que estou encarando alguém. Isso é muito constrangedor.
Passa alguns minutos, levanto e vou direto pra sala onde assistirei a droga do filme, me sento num lugar confortável e logo as pessoas vão se acomodando. Reparo que a maioria do público são meninas na faixa de 12 a 20 anos e poucos rapazes. Começa o filme e demora um pouco pra todo mundo calar a boca me irritando profundamente. Aos poucos todos param de falar e só fica o barulho das pipocas sendo devoradas.
O filme é uma adaptação de um livro que eu já tinha lido, realmente ficou muito bom, não inventou nem retirou partes importantes. É um romance um tanto clichê, mas que passa alguns pensamentos interessantes.
A sessão acaba e saio da sala ainda lotada de pessoas abraçadas chorando.
Vou direto ao ponto de ônibus que milagrosamente chega rápido. No trajeto da volta sou novamente alfinetado por aquelas pergunta que atazanam minha cabeça.
E assim como um telefone sem fio fora da fonte, consigo retornar pra casa antes que a bateria acabe e lá eu me carrego até conseguir, sabe se lá quando, sair para o mundo pra lá do portão novamente.
kAwan oLiveira