quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Neurótico no cinema

Depois de uma semana isolado, com pouca coragem, consigo cruzar a fronteira do muro de casa. Vou ao cinema assistir a uma adaptação de um livro que li já faz pouco tempo.
Levo poucos minutos para chegar ao ponto e o microônibus logo passa.
Dentro da lotação, problemas que sempre me rodeiam. Sentado no banco apertado, aquela impressão insuportável de que alguém se incomoda com minha presença. Cada pessoa que senta ao meu lado me vem aquelas perguntas que alfinetam minha cabeça. “cheiro mal”? “Ocupo muito espaço do banco”? Respondo-me “foda-se” a viagem inteira. Mas não é assim tão simples.
Entro no shopping, depois de levar aquele choque térmico causado pelo ar-condicionado, eu caminho até o cinema, passando direto pelas lojas e pessoas que olham sem intenção, nem condição de comprar nada.
Como é dia útil, não tem muita fila e consigo comprar o ingresso rápido e faltando uma hora e meia pra começar a sessão. Aproveito pra comer um pouco. Peço batatas e refrigerante, na praça de alimentação, e escolho lugar que julgo ser o mais discreto para me sentar. Logo um casal senta-se à mesa ao lado e riem de alguma coisa, isso me irrita, olho rapidamente pra ver se eu sou ou não o motivo daquelas malditas risadas.
Eu como devagar, faço um pouco de hora, já que cheguei cedo demais, eu sempre chego cedo demais, para variar. Evito olhar para qualquer direção para que não pensem que estou encarando alguém. Isso é muito constrangedor.
Passa alguns minutos, levanto e vou direto pra sala onde assistirei a droga do filme, me sento num lugar confortável e logo as pessoas vão se acomodando. Reparo que a maioria do público são meninas na faixa de 12 a 20 anos e poucos rapazes. Começa o filme e demora um pouco pra todo mundo calar a boca me irritando profundamente. Aos poucos todos param de falar e só fica o barulho das pipocas sendo devoradas.
O filme é uma adaptação de um livro que eu já tinha lido, realmente ficou muito bom, não inventou nem retirou partes importantes. É um romance um tanto clichê, mas que passa alguns pensamentos interessantes.
A sessão acaba e saio da sala ainda lotada de pessoas abraçadas chorando.
Vou direto ao ponto de ônibus que milagrosamente chega rápido. No trajeto da volta sou novamente alfinetado por aquelas pergunta que atazanam minha cabeça.
E assim como um telefone sem fio fora da fonte, consigo retornar pra casa antes que a bateria acabe e lá eu me carrego até conseguir, sabe se lá quando, sair para o mundo pra lá do portão novamente.

kAwan oLiveira
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Sintomas

- Doutor, estou desesperada. Meu filho está estranho, atrapalhado, entediado. Uma hora ele está agitado, outra hora ele está deprimido. Ele pintou o cabelo de roxo e agora quer raspar. Acho que ele anda chorando porque os olhos dele ficam vermelhos com frequência e ele se tranca no banheiro o tempo todo. Ele não escuta o que eu falo e fala umas palavras estranhas.

- Senhora, pelos sintomas apresentados. O seu filho está com adolescência.

kAwan oLiveira
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Poeira

Se sua vida estiver empoeirada
Transforme isso em arte
Talvez essa seja a melhor limpeza
Quando alguém se sente afogado
Num mar de sujeira

kAwan oLiveira
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Meu amigo Maurício

Tenho de admitir, Maurício é o cara que eu sempre quis ser. Me sinto constrangido em confessar que tenho inveja dele.

Eu sempre fui um cara muito tímido, com extrema dificuldade de falar com as pessoas. Desleixado, porco, atrapalhado, sem autoestima. Profundamente antissocial.

Certa vez, uma moça se aproximou de mim e disse:

- O opaco dos seus olhos castanhos são fascinantes.

Meu cérebro entrou em curto-circuito, disse um obrigado e deixei ela falando sozinha. Aquilo me deprimiu e fez eu me odiar. Fiquei noites e noites me questionando o porquê eu sou tão amarrado, por que existe esta maldita barreira invisível que me impede de falar com as pessoas. É tanta coisa que eu tenho que lidar, minha mente não comporta.

O meu amigo Maurício é o sujeito mais extrovertido e alegre que conheço, a palavra monotonia não existe em seu vocabulário. Sempre tem assunto de sobra pra conversar com qualquer pessoa. Faz sucesso nos bares, baladas, eventos e festas. Eu detesto boates, muita gente, muito pouco espaço e música muito alta. Mas Maurício pouco liga pra isso, ele dança como se o mundo fosse acabar amanhã , ele se joga sem restrições. A noite é toda dele, se envolve com homens e mulheres sem problemas quanto a isto. Exerce os prazeres da carne sem insegurança quanto a seu corpo, sem se preocupar com moralismos e conservadorismos estúpidos. Nunca passa a noite desacompanhado. Todos se encantam com seus olhos castanhos brilhantes. 
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Ele esta sempre disposto e eu cada vez mais exausto.

Apesar de tantas diferenças. Maurício e eu somos muito próximos. É o melhor amigo que uma pessoa solitária e deprimida pode ter. Somos tão próximos que as vezes, quando me olho no espelho, tenho a impressão de ver os olhos castanhos de Maurício.

kAwan oLiveira

Automático

Trabalhou feito uma máquina. Depois o trocaram por uma máquina.

kAwan oLiveira
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Mergulho

Te desejo
Te preciso
Me viro do avesso
Me fascino
Mistura de essências
Conflito de seres
Pura ciência
Escandalosa magia
Fusão de ruídos
Confusão de fluidos
Discreta indecência
Coreografia exótica
Foda-se toda a lógica
Comportamento imundo
Nesse oceano profundo
Me afundo
Fecundo
Este é o nosso mundo

kAwan oLiveira

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Vilas

Num lugar cheio de Quicos e Donas Florindas. Um Chaves e um Seu Madruga são essenciais.

kAwan oLiveira

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