Nunca me senti bonito. Sempre me decepciono com o que olho no espelho, me vejo um tanto deformado.
Refletindo um pouco sobre minha vida, lembro-me da escola, na quinta-série, comecei a sofrer dias cruéis de bullying. Eu era o gordo esquisito, alvo de toda chacota e humilhação da E.E. Pedro de Alcântara Marcondes Machado, nome marcado a ferro em minhas lembranças. Aquele lugar onde dois anos atrás, me vi dentro de seu pátio cinza, em uma situação inusitada. Ali onde passo em frente diariamente na volta de trabalho.
Foi naquela escola onde seria bom se apenas me ofendessem por ser gordo. Mas ia muito além disso, me batiam, me apertavam, me assediavam, me encurralavam e cuspiam em mim. Ali que comecei a sentir que não estava dentro de um padrão de beleza e seria eternamente rejeitado, pois todos eram mais bonitos do que eu.

Eu troquei de escola e as perseguições amenizaram. Porém aquilo tudo ficou marcado como uma cicatriz. Esta cicatriz as vezes se abre, sangra novamente para depois fechar de novo.
Aos 14 anos, me descobri homossexual, mas só aos 18 encontrei um grupo de pessoas que eram da minha orientação sexual. E novamente eu era o gordo, o estranho da turma, o rejeitado, o solitário, alvo de chacotas e risadas.
Tive pouquíssimas relações físicas e emocionais. Desde criança presenciei as dificuldades dos relacionamentos de pessoas próximas a mim, namoros e casamento se desfazendo, algumas relações duravam, porém eram relações infelizes e abusivas. Fiquei cético as normas tradicionais de relacionamentos. Aquilo parecia distante de mim.
Certo dia, me encontrava em um evento cheio adolescentes, uma delas chegou em mim e disse: “Moço, você é muito fofo.” Aquilo me chocou, não soube o que dizer, não soube se ela estava me elogiando ou me caçoando por conta da minha obesidade. Tudo vem à tona quando alguém se próxima e acabo recuando.
Minha psicóloga diz que eu preciso flertar mais com as pessoas, não adianta esperar o príncipe encantado cair do céu. Mas o medo de ser rejeitado novamente me paralisa.
No entanto, agora que tenho em mente que essas situações passadas me influenciam hoje. Preciso começar a me olhar com olhos menos impiedosos. Parar de me sentir deformado ao ver meu corpo gordo, com estrias, celulites e não abominar aquilo. Não existe corpo ideal, existe um padrão estético que dita como devemos ser, este padrão é patético e incoerente. Não sei por onde começar para desconstruir esta minha visão de que não há nada de belo em mim e este medo de me aproximar das pessoas. Mas já sei que não tenho de ser lindo como o Rodrigo Hilbert e sim belo como o Kawan, como a pessoa que sou.
kAwan oLiveira
kAwan oLiveira
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