terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Linhas tortas

Quando era jovem, queria ser médico. Sonhava em trabalhar em um hospital importante. Me via sendo admirado pelo meu talento e dedicação. Consegui uma bolsa e entrei em uma universidade pública. Porém, mesmo o curso sendo gratuito, não consegui arcar com os custos do transporte, entre outras coisas. Não deu para conciliar o curso com um trabalho e meus pais não tinham condições de ajudar. E então fui obrigado a abandonar a universidade.

Dois anos depois, fiz um curso técnico de enfermagem e exerço essa profissão até hoje.
A imagem pode conter: atividades ao ar livre
Perto dos meus 25 anos, conheci Juliana. Me apaixonei como se tivesse sido alvo de um poderosíssimo encanto. Após 1 ano e meio de namoro nos casamos. Os primeiros meses foram complicados, passamos a notar coisas que não conhecíamos um no outro. No 2° ano veio nosso primeiro filho, nos desesperávamos com os choros, com as gripes, dores de barrigas, vacinações dramáticas e etc. Com a nossa segunda filha já estávamos mais preparados. Mas coisas foram perdendo a graça, quando percebemos, Juliana e eu havíamos nos distanciados e o encanto se diluiu. Nos divorciamos.

Após quatro anos, me casei novamente.

Eu tinha muitas expectativas sobre o meu filho. Sonhava em vê-lo médico formado, com uma família bonita e pai de muitos filhos. Mas quando ele tinha 15 anos, ele me afirmou com toda convicção que era gay. E aos 20 anos, ele me disse que com toda certeza não seria médico. Ele é artista. Não é uma profissão que idealizei. Na verdade nem considerava isso uma profissão. Minha mãe me disse:
“Você também não foi aquilo que eu queria. Mas isso não foi culpa sua, foi minha.”

Percebo que não temos o direito de ser donos do futuro alheio. Nem do nosso próprio. O que vem por aí não pertence a mim. Não está sob o meu controle. Não está sob o controle de ninguém. Planejar o que está por vir e esperar que tudo saia detalhadamente como planejado é a mais tolas das ilusões.


kAwan oLiveira

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