quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Neurótico no cinema

Depois de uma semana isolado, com pouca coragem, consigo cruzar a fronteira do muro de casa. Vou ao cinema assistir a uma adaptação de um livro que li já faz pouco tempo.
Levo poucos minutos para chegar ao ponto e o microônibus logo passa.
Dentro da lotação, problemas que sempre me rodeiam. Sentado no banco apertado, aquela impressão insuportável de que alguém se incomoda com minha presença. Cada pessoa que senta ao meu lado me vem aquelas perguntas que alfinetam minha cabeça. “cheiro mal”? “Ocupo muito espaço do banco”? Respondo-me “foda-se” a viagem inteira. Mas não é assim tão simples.
Entro no shopping, depois de levar aquele choque térmico causado pelo ar-condicionado, eu caminho até o cinema, passando direto pelas lojas e pessoas que olham sem intenção, nem condição de comprar nada.
Como é dia útil, não tem muita fila e consigo comprar o ingresso rápido e faltando uma hora e meia pra começar a sessão. Aproveito pra comer um pouco. Peço batatas e refrigerante, na praça de alimentação, e escolho lugar que julgo ser o mais discreto para me sentar. Logo um casal senta-se à mesa ao lado e riem de alguma coisa, isso me irrita, olho rapidamente pra ver se eu sou ou não o motivo daquelas malditas risadas.
Eu como devagar, faço um pouco de hora, já que cheguei cedo demais, eu sempre chego cedo demais, para variar. Evito olhar para qualquer direção para que não pensem que estou encarando alguém. Isso é muito constrangedor.
Passa alguns minutos, levanto e vou direto pra sala onde assistirei a droga do filme, me sento num lugar confortável e logo as pessoas vão se acomodando. Reparo que a maioria do público são meninas na faixa de 12 a 20 anos e poucos rapazes. Começa o filme e demora um pouco pra todo mundo calar a boca me irritando profundamente. Aos poucos todos param de falar e só fica o barulho das pipocas sendo devoradas.
O filme é uma adaptação de um livro que eu já tinha lido, realmente ficou muito bom, não inventou nem retirou partes importantes. É um romance um tanto clichê, mas que passa alguns pensamentos interessantes.
A sessão acaba e saio da sala ainda lotada de pessoas abraçadas chorando.
Vou direto ao ponto de ônibus que milagrosamente chega rápido. No trajeto da volta sou novamente alfinetado por aquelas pergunta que atazanam minha cabeça.
E assim como um telefone sem fio fora da fonte, consigo retornar pra casa antes que a bateria acabe e lá eu me carrego até conseguir, sabe se lá quando, sair para o mundo pra lá do portão novamente.

kAwan oLiveira
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Sintomas

- Doutor, estou desesperada. Meu filho está estranho, atrapalhado, entediado. Uma hora ele está agitado, outra hora ele está deprimido. Ele pintou o cabelo de roxo e agora quer raspar. Acho que ele anda chorando porque os olhos dele ficam vermelhos com frequência e ele se tranca no banheiro o tempo todo. Ele não escuta o que eu falo e fala umas palavras estranhas.

- Senhora, pelos sintomas apresentados. O seu filho está com adolescência.

kAwan oLiveira
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Poeira

Se sua vida estiver empoeirada
Transforme isso em arte
Talvez essa seja a melhor limpeza
Quando alguém se sente afogado
Num mar de sujeira

kAwan oLiveira
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Meu amigo Maurício

Tenho de admitir, Maurício é o cara que eu sempre quis ser. Me sinto constrangido em confessar que tenho inveja dele.

Eu sempre fui um cara muito tímido, com extrema dificuldade de falar com as pessoas. Desleixado, porco, atrapalhado, sem autoestima. Profundamente antissocial.

Certa vez, uma moça se aproximou de mim e disse:

- O opaco dos seus olhos castanhos são fascinantes.

Meu cérebro entrou em curto-circuito, disse um obrigado e deixei ela falando sozinha. Aquilo me deprimiu e fez eu me odiar. Fiquei noites e noites me questionando o porquê eu sou tão amarrado, por que existe esta maldita barreira invisível que me impede de falar com as pessoas. É tanta coisa que eu tenho que lidar, minha mente não comporta.

O meu amigo Maurício é o sujeito mais extrovertido e alegre que conheço, a palavra monotonia não existe em seu vocabulário. Sempre tem assunto de sobra pra conversar com qualquer pessoa. Faz sucesso nos bares, baladas, eventos e festas. Eu detesto boates, muita gente, muito pouco espaço e música muito alta. Mas Maurício pouco liga pra isso, ele dança como se o mundo fosse acabar amanhã , ele se joga sem restrições. A noite é toda dele, se envolve com homens e mulheres sem problemas quanto a isto. Exerce os prazeres da carne sem insegurança quanto a seu corpo, sem se preocupar com moralismos e conservadorismos estúpidos. Nunca passa a noite desacompanhado. Todos se encantam com seus olhos castanhos brilhantes. 
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Ele esta sempre disposto e eu cada vez mais exausto.

Apesar de tantas diferenças. Maurício e eu somos muito próximos. É o melhor amigo que uma pessoa solitária e deprimida pode ter. Somos tão próximos que as vezes, quando me olho no espelho, tenho a impressão de ver os olhos castanhos de Maurício.

kAwan oLiveira

Automático

Trabalhou feito uma máquina. Depois o trocaram por uma máquina.

kAwan oLiveira
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Mergulho

Te desejo
Te preciso
Me viro do avesso
Me fascino
Mistura de essências
Conflito de seres
Pura ciência
Escandalosa magia
Fusão de ruídos
Confusão de fluidos
Discreta indecência
Coreografia exótica
Foda-se toda a lógica
Comportamento imundo
Nesse oceano profundo
Me afundo
Fecundo
Este é o nosso mundo

kAwan oLiveira

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Vilas

Num lugar cheio de Quicos e Donas Florindas. Um Chaves e um Seu Madruga são essenciais.

kAwan oLiveira

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O talentoso Kim

Kim era um homem que enganava as pessoas. Fazia promessas, incentivava, desincentivava, falava a verdade de trás pra frente, criava histórias, personagens, heróis e vilões.
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Tinha a confiança de várias pessoas, uma legião de fãs, discípulos que o ouviam e obedeciam cegamente. Seus fãs eram carentes de opiniões, ele oferecia opiniões a esse povo. Seus discípulos necessitavam de heróis, por isso Kim era o herói deles. Todos querem ser ouvidos e Kim os ouvia. E isso era 80% da sedução.

Ele não era pastor, mas seu público ia e vinha conforme suas ordens. Essas pessoas defendiam a quem ele mandava defender e atacava a quem ela mandava atacar.

Ele era especialista em mentir, distorcia fatos, criava verdades, invertia valores. Determinava o bem e o mal, descrevia Deus a sua imagem e semelhança. Controlava quem e o quê entrava e saia. Fazia a ficção se tornar realidade. Ele chegava a ser um artista. 

Kim era tão bom na arte de mentir, que convencia a si próprio de que sua própria vida não uma grandessíssima mentira.

kAwan oLiveira

Dias e noites

Tinha dias que nada fazia
E a noite se via
Sem um pingo de energia
E tinha dias que tudo fazia
E a noite a euforia
Lhe invadia

kAwan oLiveira

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Descrevendo

É como morrer e o coração continuar batendo
É como viver e não existir
É como se milhares de agulhas penetrassem por dentro
É como um enxame de abelhas selvagens da sua cabeça
É como se todos te olhassem e você fosse invisível
É como ter ácido correndo pela veia
É como ter sonhos e estar preso em um pesadelo
É como ter fé e de tudo duvidar
É como estar um ônibus lotado e estar sozinho
É como respirar e não sentir o ar
É como se os órgãos se arrebentassem
É como sentir frio em um dia de calor
É como falar e não dizer nada
É como a primavera sem flor
É como o outono sem folha
É como passar despercebido e querer tanto ser visto
É como traçar objetivos e os mesmos sumissem quando estão próximos
É como uma hemorragia de sentimentos doloridos

É querer morrer sem precisar perder a vida
É a lágrima queimando o rosto
É ter medo e curiosidade do futuro que se aproxima
É se sentir acolhido no fundo do poço
É admirar uma película em preto e branco
É como a chuva escorrendo pela janela num dia fechado
É a solidão te fazendo companhia no meio do vácuo
É um sol sem brilho
É estar num mundo sentindo falta de outro
Uma música sem som
Uma comida sem gosto

Enfim faltam palavras para descrever
A melancolia que grita e ninguém escuta
A tristeza que descolore e ninguém vê

kAwan oLiveira

Do Ódio a Aterrissagem

Sobre o filme: O Ódio


O judeu Vinz (Vincent Cassel), o árabe Saïd (Saïd Taghmaoui) e o pugilista negro Hubert (Hubert Koundé) vivem na periferia de Paris e encaram diariamente a discriminação e os abusos da polícia. Durante mais um das corriqueiras brigas com as autoridades, Vinz encontra uma arma e jura assassinar um policial caso seu amigo Abdel (Abdel Ahmed Ghili), espancado em interrogatório, morra em decorrência dos ferimentos.

O filme se passa em um dia onde os três amigos enfrentam diversas situações de injustiça e de abandono. Muitos diálogos no filme tem aquele efeito de fazer você refletir por um bom tempo.
“Essa é a história de um homem que cai de um prédio de 50 andares. Durante a queda, ele repete sem parar, para se reconfortar: ‘Até aqui tudo bem, até aqui tudo bem, até aqui… tudo bem.’ O importante não é a queda, é a aterrissagem.”
"Eu sei o que eu sou e da onde eu vim"

E o que podemos tirar da história do velho que interrompe uma discussão entre os três e conta uma história aparentemente sem pé nem cabeça? Aparentemente.

Algumas cenas cômicas aliviam um pouco o choque, mas não deixa de causar aquela sensação de que estamos em um beco sem saída, caindo num precipício. Mas ao mesmo tempo força nosso cérebro a trabalhar um pouco em busca de soluções para sair dessa situação.

O Ódio foi lançado no ano 1995, expõe toda uma intolerância e corrupção por parte da polícia, manipulação por parte da mídia e abandono por parte do governo. Que muito identificamos nas periferias no Brasil atual.

E será que desse ódio que criamos perante todas essas situações, pode-se sair a solução ou isso só nos ajuda a cavar ainda mais a própria cova? Já que grandes tragédias já foram criadas a partir desse ódio, mas mudanças radicais tiveram que ser feitas a partir dessa fúria.

O que seria capaz de acionar o gatilho? Que destruição isso causaria? O que seria construído a partir dessa destruição?

kAwan oLiveira

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Controle

Achava que tinha o controle da situação. A situação estava no controle.

kAwan oLiveira

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Remédio

Remédio para acalmar
Remédio para depressão
Remédio para pressão
Remédio para o açúcar diminuir
Remédio para dormir
Remédio para ver
Remédio para não ver
Remédio para dependência
Remédio para dependência em remédios
Remédio para não sentir dor
Remédio para a pele
Remédio para não envelhecer
Remédio para rejuvenescer
Remédio para fortalecer
Remédio para emagrecer
Remédio para cicatrizar
Remédio para não se machucar
Remédio para prevenir
Remédio para remediar
Eu me pergunto
Quando inventarão remédios
Para que remédios
Ninguém precise mais tomar

kAwan oLiveira

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Patinho



Nunca me senti bonito. Sempre me decepciono com o que olho no espelho, me vejo um tanto deformado.

Refletindo um pouco sobre minha vida, lembro-me da escola, na quinta-série, comecei a sofrer dias cruéis de bullying. Eu era o gordo esquisito, alvo de toda chacota e humilhação da E.E. Pedro de Alcântara Marcondes Machado, nome marcado a ferro em minhas lembranças. Aquele lugar onde dois anos atrás, me vi dentro de seu pátio cinza, em uma situação inusitada. Ali onde passo em frente diariamente na volta de trabalho. 

Foi naquela escola onde seria bom se apenas me ofendessem por ser gordo. Mas ia muito além disso, me batiam, me apertavam, me assediavam, me encurralavam e cuspiam em mim. Ali que comecei a sentir que não estava dentro de um padrão de beleza e seria eternamente rejeitado, pois todos eram mais bonitos do que eu. 
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Eu troquei de escola e as perseguições amenizaram. Porém aquilo tudo ficou marcado como uma cicatriz. Esta cicatriz as vezes se abre, sangra novamente para depois fechar de novo.

Aos 14 anos, me descobri homossexual, mas só aos 18 encontrei um grupo de pessoas que eram da minha orientação sexual. E novamente eu era o gordo, o estranho da turma, o rejeitado, o solitário, alvo de chacotas e risadas. 

Tive pouquíssimas relações físicas e emocionais. Desde criança presenciei as dificuldades dos relacionamentos de pessoas próximas a mim, namoros e casamento se desfazendo, algumas relações duravam, porém eram relações infelizes e abusivas. Fiquei cético as normas tradicionais de relacionamentos. Aquilo parecia distante de mim.

Certo dia, me encontrava em um evento cheio adolescentes, uma delas chegou em mim e disse: “Moço, você é muito fofo.” Aquilo me chocou, não soube o que dizer, não soube se ela estava me elogiando ou me caçoando por conta da minha obesidade. Tudo vem à tona quando alguém se próxima e acabo recuando. 

Minha psicóloga diz que eu preciso flertar mais com as pessoas, não adianta esperar o príncipe encantado cair do céu. Mas o medo de ser rejeitado novamente me paralisa.

No entanto, agora que tenho em mente que essas situações passadas me influenciam hoje. Preciso começar a me olhar com olhos menos impiedosos. Parar de me sentir deformado ao ver meu corpo gordo, com estrias, celulites e não abominar aquilo. Não existe corpo ideal, existe um padrão estético que dita como devemos ser, este padrão é patético e incoerente. Não sei por onde começar para desconstruir esta minha visão de que não há nada de belo em mim e este medo de me aproximar das pessoas. Mas já sei que não tenho de ser lindo como o Rodrigo Hilbert e sim belo como o Kawan, como a pessoa que sou.

kAwan oLiveira

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Te ajudar

Olho pra você
E a vejo caminhando
Em passos escuros
Mas não posso interferir
Apenas lhe pedir
Para seus erros não repetir
Parar e pensar antes de agir
Para você não se ferir

Eu queria poder te ajudar
Mas seria imprudente
As rédeas da sua vida tomar
Não pense que eu não me importo
Mas a minha vida também precisa caminhar

Mesmo enfraquecida
Você é minha fortaleza
Por favor, não diga que acabou
Não deixe que ninguém te aborreça
A vida ainda nem começou

Se cair, sucumbir
Eu estou aqui pra te erguer
Se achar que vale a pena
Lutar por você
Não deixe ninguém interferir
A vida é sua.

kAwan oLiveira

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Patinho

Nunca me senti bonito. Sempre me decepciono com o que olho no espelho, me vejo um tanto deformado.

Refletindo um pouco sobre minha vida, lembro-me da escola, na quinta-série, comecei a sofrer dias cruéis de bullying. Eu era o gordo esquisito, alvo de toda chacota e humilhação da E.E. Pedro de Alcântara Marcondes Machado, nome marcado a ferro em minhas lembranças. Aquele lugar onde dois anos atrás, me vi dentro de seu pátio cinza, em uma situação inusitada. Ali onde passo em frente diariamente na volta de trabalho. 
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Foi naquela escola onde seria bom se apenas me ofendessem por ser gordo. Mas ia muito além disso, me batiam, me apertavam, me assediavam, me encurralavam e cuspiam em mim. Ali que comecei a sentir que não estava dentro de um padrão de beleza e seria eternamente rejeitado, pois todos eram mais bonitos do que eu. 

Eu troquei de escola e as perseguições amenizaram. Porém aquilo tudo ficou marcado como uma cicatriz. Esta cicatriz as vezes se abre, sangra novamente para depois fechar de novo.
Aos 14 anos, me descobri homossexual, mas só aos 18 encontrei um grupo de pessoas que eram da minha orientação sexual. E novamente eu era o gordo, o estranho da turma, o rejeitado, o solitário, alvo de chacotas e risadas. 

Tive pouquíssimas relações físicas e emocionais. Desde criança presenciei as dificuldades dos relacionamentos de pessoas próximas a mim, namoros e casamento se desfazendo, algumas relações duravam, porém eram relações infelizes e abusivas. Fiquei cético as normas tradicionais de relacionamentos. Aquilo parecia distante de mim.

Certo dia, me encontrava em um evento cheio adolescentes, uma delas chegou em mim e disse: “Moço, você é muito fofo.” Aquilo me chocou, não soube o que dizer, não soube se ela estava me elogiando ou me caçoando por conta da minha obesidade. Tudo vem à tona quando alguém se próxima e acabo recuando. 

Minha psicóloga diz que eu preciso flertar mais com as pessoas, não adianta esperar o príncipe encantado cair do céu. Mas o medo de ser rejeitado novamente me paralisa.

No entanto, agora que tenho em mente que essas situações passadas me influenciam hoje. Preciso começar a me olhar com olhos menos impiedosos. Parar de me sentir deformado ao ver meu corpo gordo, com estrias, celulites e não abominar aquilo. Não existe corpo ideal, existe um padrão estético que dita como devemos ser, este padrão é patético e incoerente. Não sei por onde começar para desconstruir esta minha visão de que não há nada de belo em mim e este medo de me aproximar das pessoas. Mas já sei que não tenho de ser lindo como o Rodrigo Hilbert e sim belo como o Kawan, como a pessoa que sou.

kAwan oLiveira

Ser

Ele foi condenado a ser apedrejado diariamente. Seu crime: ser ele.

kAwan oLiveira

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sábado, 16 de fevereiro de 2019

Bia e Leo

Eu tenho uma gata e um cachorro. A gata se chama Bia e o cachorro se chama Leo.
A noite, após um dia longo, pesado e sacrificante de trabalho, eu brinco com eles. Dou comida, banho, faço cócegas, acaricio, solto ratinhos e Bia se diverte os caçando, escondo ossos e Leo se diverte os procurando.
É assim há quase 20 anos. Os levo comigo por onde ando e viajo no meu celular, interajo com eles quando consigo um respiro do meu tempo limitado que me impede de ter animais e amigos de verdade.
Às vezes eu troco a cor deles, imagino o quanto deve ser agoniante ser a mesma coisa todo santo dia. Hoje Bia esta da cor azul e Leo da cor laranja. Semana passada ela estava esverdeada e ele roxo.
Leo adoeceu dias atrás, mas consegui comprar uma injeção virtual e cura-lo. Eu trabalho tanto, alguma coisa de útil eu tenho de fazer com o dinheiro que ganho. Comprei também uma mobília nova para a casinha deles, um grande osso pra ele e um novelo de lã para ela. Eles ficaram tão alegres. Alegres como sempre são e faço de tudo para que se mantenham assim.
Quando chego do trabalho e ligo a TV e interajo com eles em uma tela maior, nos divertimos um pouco até eu coloca-los para dormir e depois me deitar acompanhado apenas pela luz do abajur e dos calmantes.
Uma pena que Bia e Leo sejam condenados a viver presos dentro de uma tela de celular, TV, tablet ou computador. Pelo menos eles tem um ao outro.

kAwan oLiveira

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Coração

Coração
Bicho selvagem
Bicho rebelde
Criatura sem noção
Sempre fazendo traquinagem
As vezes se parte em pedaços
As vezes cria laços

kAwan oLiveira

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A fantástica batalha maluca no travesseiro

“Amanhã eu tenho que acordar as 7”
“E aquela merda que eu fiz na quinta série”
“Somos poeira de estrelas”
“Quem nasceu primeiro o ovo ou a galinha?”
“O que esta acontecendo com as abelhas?”
“Será que é possível voltar no tempo?”
“Será que eu vou conseguir lançar meus livros?”
“Preciso assistir aquele filme”
“Será que o país vai sair dessa roubada?”
“Será que eu já fui abduzido?”
“Saudade da minha infância”
“O mundo está em transição”
“Preciso revisar aquele texto”
“Era uma vez...”
“Não! Isso não é hora de ter inspiração”
“Como eu adoro esse fogos embelezando o céu...”
“Essa música não sai da minha cabeça”
“A ordem dos fatores não interfere no resultado”
“Amanha eu tenho que acordar as 7”
“Tudo vai dar certo”
“Tomara”
“Amanha eu preciso acordar as 7”
“Como eu pude me apaixonar por aquele idiota?”
“Acho que estou gostando de alguém”
“Donnie Darko... universo tangente...buraco de minhoca”
“Por que os cachorros estão latindo?”
“E esse sono que não vem”
“Será que existe vida no centro da Terra”
"Dormir cedo pelo que eu estou vendo já era"

kAwan oLiveira

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Detalhe

Naquela manhã, pouco se lembrava da noite passada. Recordava apenas de um detalhe: um olhar.

kAwan oLiveira

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Filha do abandono


Sobre o filme A Senhora da Van


“O escritor é dividido em dois: Existe aquele que escreve e existe o outro que vive. E eles conversam, eles discutem. Escrever é falar consigo mesmo.”

“- A senhora escolheu viver assim.”
“- Eu não escolhi, eu fui escolhida.”

Precisei de um tempo pra me recuperar, refletir e falar desse filme.

Uma história delicada, baseada em fatos reais, sobre a relação entre a Senhora Shepper e o dramaturgo inglês Alan Bennett.

Shepper, uma senhora de idade, com um temperamento difícil, mora dentro de uma van, onde ela estaciona numa rua do bairro de Camdem Town – Londres. Logo de cara se vê a caridade hipócrita da vizinhança em relação a essa senhora, para causar boa impressão ou por uma obrigação moral, mas ninguém a suporta. Até que ela não pode mais estacionar naquela rua e Bennett a deixa estacionar em sua garagem, onde ela acaba vivendo por anos.

O filme mescla a comédia com o drama. A senhora Shepper é a típica filha do abandono, da rejeição. Durante sua vida ela sofreu uma série de opressões, de privações, de maldades e o abandono familiar, social, religioso, etc. Assim como boa parte daqueles moradores de rua que nós vemos quase que diariamente.

Os personagens de Bennett e Shepper têm características delicadamente bem acentuadas. Bennett um dramaturgo solitário, monótono e cheio de conflitos consigo mesmo. Shepper uma mulher religiosa, desbocada e que sente um doloroso sentimento de culpa, que Bennett percebe ao vê-la orar fervorosamente.

O filme com toda sua critica, é bem leve e vale muito a pena ser assistido. O passado conturbado da senhora da van, vai sendo revelado aos poucos. A história emociona e nos faz indagar: aquele mendigo que eu vi na rua. Pelo que será que ele já passou? Ele tem sonhos? Ele tem algum dom ou talento no qual ele foi impedido apreciar?




Aquelas


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Desencanto

Pensei que éramos amigos
Tenho o péssimo hábito
De atribuir amizade a relações rasas
Mas nós dois passamos por altos e baixos
Ameaças e dificuldades
Noites de frio
Dias de chuva
Para onde estamos levando essa luta
Será nós o nosso maior inimigo
E o que restou de nosso grupo

Ontem eu estava sofrendo
E ao dizer que eu queria me cortar você falou:
“Que deus te proteja”
Mas a culpa é minha
Realmente pensei que éramos amigos
Eu acreditei na sua ideologia
A creditei na sua boa intenção
Sabe que até tive um encantamento por você

Mais uma frustração
E foram tantas as amizades
Que evaporaram com o tempo
Aquela amiga de infância que pedi em casamento
Aquele que debochava de mim
Pra esconder o quanto
Ele não estava satisfeito consigo mesmo
Os amigos restritos a mensagens eletrônicas
E os amigos de luta que agora estão longe
Suas ideias estão distantes
Me lembro da lista do Oswaldo Montenegro
“Faça uma lista de grandes amigos”
“Quem você mais via há dez anos atrás?”
“Quantos você ainda vê todo dia?”
“Quantos você já não encontra mais?”

kAwan oLiveira

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Dorgas

- Você usa drogas pesadas?
- Rivotril, fluoxetina, omeprazol, café, miojo com salsicha, pastel de feira, netflix...

kAwan oLiveira

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Linhas tortas

Quando era jovem, queria ser médico. Sonhava em trabalhar em um hospital importante. Me via sendo admirado pelo meu talento e dedicação. Consegui uma bolsa e entrei em uma universidade pública. Porém, mesmo o curso sendo gratuito, não consegui arcar com os custos do transporte, entre outras coisas. Não deu para conciliar o curso com um trabalho e meus pais não tinham condições de ajudar. E então fui obrigado a abandonar a universidade.

Dois anos depois, fiz um curso técnico de enfermagem e exerço essa profissão até hoje.
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Perto dos meus 25 anos, conheci Juliana. Me apaixonei como se tivesse sido alvo de um poderosíssimo encanto. Após 1 ano e meio de namoro nos casamos. Os primeiros meses foram complicados, passamos a notar coisas que não conhecíamos um no outro. No 2° ano veio nosso primeiro filho, nos desesperávamos com os choros, com as gripes, dores de barrigas, vacinações dramáticas e etc. Com a nossa segunda filha já estávamos mais preparados. Mas coisas foram perdendo a graça, quando percebemos, Juliana e eu havíamos nos distanciados e o encanto se diluiu. Nos divorciamos.

Após quatro anos, me casei novamente.

Eu tinha muitas expectativas sobre o meu filho. Sonhava em vê-lo médico formado, com uma família bonita e pai de muitos filhos. Mas quando ele tinha 15 anos, ele me afirmou com toda convicção que era gay. E aos 20 anos, ele me disse que com toda certeza não seria médico. Ele é artista. Não é uma profissão que idealizei. Na verdade nem considerava isso uma profissão. Minha mãe me disse:
“Você também não foi aquilo que eu queria. Mas isso não foi culpa sua, foi minha.”

Percebo que não temos o direito de ser donos do futuro alheio. Nem do nosso próprio. O que vem por aí não pertence a mim. Não está sob o meu controle. Não está sob o controle de ninguém. Planejar o que está por vir e esperar que tudo saia detalhadamente como planejado é a mais tolas das ilusões.


kAwan oLiveira

Nação

Nossa nação é perversa consigo mesma. As vezes somos tão calorosos com estrangeiros, dependendo dos estrangeiros. Mas, entre nós, estamos sempre em pé de guerra, nos humilhando, saboreando a dor alheia e nos ferindo. Por onde mudar isso?

kAwan oliveira

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Brado Bárbaro

Dentro de mim há um grito oprimido que deseja sair como lava de um vulcão adormecido.
Um grito de 8 graus na escala Richter.
Um grito que não mataria cachorro a grito, mas que deixaria muita gente desnorteada.
Um grito pelos problemas alheios que me envolveram.
Um grito pela eterna amizade esquecida.
Um grito pelos anos que não voltam mais.
Um grito pelos anos incertos que virão.
Um grito por cada crítica injusta.
Um grito pelo fracasso ao agradar gregos e troianos.
Um grito pela fobia social e por essa dor canalha que me dilacera.
Um grito de posse ao que é meu.
Um grito de independência do que não é meu.
Um grito para mostrar quem de fato sou eu.

kAwan oLiveira

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Melhores episódios do Castelo Rá Tim Bum

10 O Nino Mudou:
Nino é convidado para um casamento e após ir a festa trajado com roupas sociais, ele decide virar adulto e passa agir de forma séria e arrogante, mas aos pouco ele vai sentindo falta da leveza da infância. Doutor Victor o lembra de que para ser adulto tem hora e que mesmo depois de crescer devemos sempre manter intacta nossa criança interior.

9 Eu prometo:
Doutor Victor viaja e deixa Celeste responsável pelo castelo, porém ela começa a agir de forma autoritária e injusta. A turma do castelo decide então protestar por eleições para que seja escolhido corretamente aquele que irá se comprometer pelo castelo. Esse episódio mostra como devemos reagir diante das injustiças de nossos representantes e como é preciso saber escolher os mesmos.

8 Quer parar de me olhar:
Nino e as crianças estão mal humorados e acabam chateando Penélope por conta disso.
O mau humor é contagioso, começa com um, vai passando para outro e quando se vê, todo mundo já está envolvido naquela atmosfera pesada. É preciso que alguém quebre este ciclo.

7 A Cidade dos sonhos:
Nino cria uma maquete representando como seria uma cidade ideal, sem tanta poluição, confusão e barulho. Episódio em que somos apresentados ao Doutor Abobrinha, que quer comprar o castelo para derrubar e construir um prédio de 100 andares. Vemos uma crítica a vida urbana em que a ganância move as pessoas.

6 Asas da imaginação:
Nino quer escrever um livro, ao mesmo tempo em que os livros estão sumindo da biblioteca e a Celeste desaparece. Este episódio fala de como flui nossa imaginação e como podemos viajar com ela, uma ferramenta poderosíssima, capaz de mover o mundo. Os livros são encontrados, Celeste reaparece com um par de asas dizendo que seu sonho sempre foi voar e Nino tira disso inspiração para escrever sua história. Penélope conclui: “as melhores asas que existem são as asas da nossa imaginação”.

5 Zula, a menina azul:
O castelo recebe uma visita inesperada. Zula, a menina azul, é recebida com estranhamento por todos, sendo tratada com antipatia. Penélope intervém e fala que todos estão agindo com preconceito. Após se conhecerem melhor e espantarem o preconceito, Zula, Nino, Penélope e as crianças se dão super bem e se divertem.

4 Relações familiares
O castelo recebe a visita de Aldebarã, pai do Dr Victor e irmão de Morgana. Ele relembra histórias sobre a família, conta peculiaridades sobre Dr Victor e Morgana, dá dicas a Nino para jogar damas e o castelo entra naquele clima familiar.

3 Beleza:
Caipora dá uma escultura para Nino, porém ele acha o presente horroroso, o que gera uma discussão entre os dois. Para fazer as pazes, Nino faz uma escultura e presenteia Caipora que acha horroroso também. Mas como os dois presentes foram feitos por dois amigos que se amam, o que era feio se torna belo.

2 Et cetera
Este episódio foi gravado após o ator que interpretava Etevaldo, Wagner Bello, falecer. Então neste dia o Etevaldo não foi ao castelo, ao invés disso ele mandou uma carta dizendo que ele não poderia ir ao castelo pois estava entre estrelas brincando. E então ele manda sua irmã, a Et cetera, que tem dificuldade de se enturmar, mas logo ela cria amizade com Zequinha que também é envergonhado e juntos eles superam a timidez.

1 Asas
Pedro, Biba e Zeca encontram um passarinho machucado e junto com Nino e Bongô ele tratam do seu ferimento, mas o passarinho acaba morrendo. Todos passam por aquele sofrimento do luto e de maneira muito simples nos é ensinado o ciclo da vida, a superação da morte e que algo sempre continua depois que termina.

kAwan oLiveira
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Deriva

Naquele dia não consegui levantar
Meus olhos abriram
Mas não consegui me soltar dos lençóis
Não tinha mais sono
Também não tinha capacidade para acordar
Eu via as cores na janela
Há quantas horas e dias durava minha paralisia?
Tentava me agarrar em algo para me segurar
Meus braços não conseguiam alcançar
O mundo vibrava e lamentava a subida do suposto salvador
Não havia quem me salvasse
Eu estava a deriva no meio do espaço
Prisioneiro da gravidade
Coração leve
Corpo pesado
Pássaros cantavam
Depois os grilos lamentavam
E depois pássaros voltavam a cantar
Naquele dia não fui assolado de grande angústia
Naquele dia simplesmente não consegui me levantar
As faces desconhecidas da maldição do século


kAwan oLiveira

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Prazeres

Aílton trabalhava para gente rica, adentrava todo tipo de mansões e apartamentos luxuosos, exuberantes e extravagantes. Ele sonhava em ser assim e ter todo tipo de posses, achava que assim seria admirado por todos. Se matava de trabalhar e ganhava dinheiro, mas grande parte do que ganhava usava para adquirir fragmentos daquilo que seus patrões ostentavam. Hoje, velho, sem energia para trabalhar e ganhando uma aposentadoria mixuruca, Aílton reclama e culpa sua família por não ter uma vida melhor e mais confortável. Seu maior prazer é assistir ao futebol domingo a tarde.

A imagem pode conter: bebidaDora era uma dona de casa dedicada a sua família. A sua felicidade era a felicidade daqueles que amava. Seus filhos cresceram e se casaram, tiveram outros filhos e viviam suas vidas. Não conhecia muitas pessoas, era bastante solitária. Até tinha projetos para si mesma, mas ela preferiu deixar esses projetos de lado e se dedicar a felicidade de sua família. Hoje, velha e com a saúde fragilizada, Dora fica em casa costurando e mastigando lembranças. Seu maior prazer é assistir as novelas a noite.

Já ouviram falar daquela piada onde um homem compra um sapato com dois ou três números a 
menos que o tamanho de seu pé, só para ter o prazer de chegar em casa e tirar aqueles sapatos? Pois é, vejo esse homem na maioria das pessoas com quem cruzo durante o dia, inclusive em mim mesmo.

kAwan oLiveira

Descontrole

Acho que perdi o controle
Do meu auto controle
As frustrações e traumas
Influenciam com força
Aquilo que tenho de escolher

E são tantas as escolhas
Tanta loucura amarrada
Tantos pingos nos olhos contidos
E cada vez mais pingos
Para serem colocados nos is

E cada vez menos segurança
E mais incertezas
E cada vez mais datas marcadas
E menos dias
E o corpo segurando a barra
Da mente encharcada

Por dentro tanta coisa acumulada
E só tem ar para colocar pra fora
Se tem vomito eu fecho a boca
Se tem lágrimas eu pressiono as pálpebras
Se tem palavras
Elas grudam na língua
Se há mágoa o coração empurra pro estômago
Que perece de tanto digerir
A saudade
O medo
As consequências
O calor da pele
A sertralina
O omeprazol
O arrependimento
A dor de aprender
A dor de saber
O quão descontrolado eu fiquei
Ao pensar que tudo eu poderia controlar

kAwan oLiveira

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Torre de Babel

Em várias escrituras, é citada a história da Torre de Babel. Uma civilização, que tomada pela ganância e soberba, constrói uma torre tão alta a ponto de chegar aos céus. Os deuses ofendidos com essa afronta destroem essa torre, causando um imenso desastre.

Se você analisar bem. Em toda a história da humanidade, quantas torres de Babel já foram construídas, regadas com sangue, ganância, ambição, maldade, injustiça, ilusão, e despencaram? E pior, quantas torres que são construídas e destruídas hoje em dia?

Babilônia, Antigo Egito, Grécia Antiga, Império Romano, Alemanha na 2° Guerra, Estados Unidos, Brasil. Toda civilização erguida tendo como base a ganância despenca.

Estas torres sempre caem e provocam imensas catástrofes.

E há também pessoas que constroem torres dentro de si. Posicionando cada tijolo tendo em vista um futuro próspero, ou então induzidas por crenças, ou então seguindo o exemplo de várias pessoas com torres internas construídas. Mas sem estrutura estas torres despencam e tudo que levou anos pra ser construído vira poeira em poucos segundos. Qual será a estrutura que tanto se fazia essencial e tanto foi deixada de lado?

A mesma estrutura que falta em toda torre de babel oca.

Vivemos em uma época em que as pessoas estão sendo tomadas pela depressão, pela amargura, pela tristeza. As torres de babel estão despencando por dentro e por fora. Ao mesmo tempo, muita coisa esta sendo exposta, máscaras estão caindo, alguns abrem os olhos, outros preferem fechar de vez.
Não adianta chegar aos céus, deixando um rastro de inferno para chegar até lá.

Agora olhe em volta, olhe para si mesmo. Quantas torres de babel estão sendo construídas? Será que ainda há tempo de reverter a situação, antes delas desmoronarem?

kAwan oLiveira

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Tempo

Tempo tempo tempo
É um dos deuses mais lindos
E um dos mais implacáveis
Traz vidas e leva vidas
Deteriora a superfície das fotografias
Vai escrevendo histórias no rosto de cada pessoa
Rega recordações e fomenta saudades
Tempo tempo tempo
É um senhor tão bonito
Sutil como a respiração de uma criança
E ao mesmo tempo
Avassalador como um furacão de infinitas proporções
Endurece couraças
Diminui grandiosidades
Derruba arrogâncias
Dilui orgulhos que de nada servem
Evolui espécies
Molda superfícies
Muda moléculas
Tempo tempo tempo

kAwan oLiveira

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Tédio

Conforme as coisas aconteciam, ele pensava aflito: “Alguma coisa precisa acontecer.”

kAwan oLiveira

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